segunda-feira, 20 de agosto de 2007

ainda sob o efeito do homem

ainda sob o efeito do homem
cala-se em devoção
venera-o
“Oh, falo de ouro!
Oh, servo das videiras!”
se o tempo parasse
se a vida sucumbisse
mas o tempo vai lento, beirando ao bento
e a vida lateja em seus sexos
oram e contemplam esse instante eterno
mas há luta calada
há sentimento velado
sobrevivente ferido, de inúmeras batalhas
rasgado em seu regalo atingido
visgo aflito e despretensioso
quase iluminado
acometido de uma dor pulsante
que fere a alma errante
que já não quer se defender
abre tuas pernas em sinal de voto vencido
e entrega-se ao prazer terminal
que cala a terra
assola as indagações
e espalha-se sobre os dois corpos
invasor e invadido
dilaceram-se incondicionalmente
as horas não vencem nada
as diferenças não separam os eternos
são independentes, dicotômicos e seus
um cresce frutificado, o outro o colhe em uvas
mas a um terceiro é dado o privilégio do fruto
Os mais preciosos e maduros
permitem-se ao chão
entregam-se à boca serva
que se delicia com o estalo proibido
um explode na entrega de sua essência, o outro saboreia-a
despudoradamente inconseqüentes alimentam-se
do gozo visceral
quase secreto, quase em fuga
um sussurra quase que para ser ouvido,
o outro ouve quase que para crer
ambos refestelam-se
num elo infinito
no beijo mais profundo
e mais silencioso
que ecoa em seus olhos
e num poente de doação finita
final.

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